Archive for the ‘Querido diário’ Category

Sobre o tempo e a hora de acordar.

Lembro de um comercial de TV que dizia: “você passa um terço da sua vida dormindo; então que seja num bom colchão.” Sabe, eu acho que a gente passa muito mais do que isso dormindo, na verdade. Mesmo que não seja na cama, nem cochilando no ônibus, nem no intervalo pro almoço no trabalho, nem nada. É dormindo acordado. “Zumbizando” na vida, esquecendo do que é importante. Quanto tempo será que a gente passa olhando a tela do Facebook subir, subir, sem apreender nada, sem pensar, quantas horas? Sejamos sinceros. Quanto tempo no twitter, no messenger. Quanto tempo fingindo que tá trabalhando, quando na verdade estamos pensando no final do expediente, quando poderíamos fazer e acontecer, e este chega e a gente continua dormindo? Eu sei lá porque pensei isso agora à noite. Acho que foi porque estava inspirada pelo segundo assunto que vem logo abaixo, liguei o computador pra escrever, e vi as pessoas “dormindo” no Facebook. Minha ideia era outra pro blog, que aliás, anda bem adormecido, mea culpa. Minha ideia era imaginar de quantas memórias se faz uma história de amor. É que eu acabei de assistir, pela não-sei-quantésima vez, o filme “Como se fosse a primeira vez”, onde a garota tem um problema de memória ocorrido depois de um acidente, e a partir disso, sua memória dura apenas 24 horas. Ela não lembra do que fez ou de quem conheceu no dia anterior. E o carinha tem que conquistá-la todos os dias, porque é apaixonado por ela, e para ela, toda vez que o vê, é como se fosse a primeira vez.

E aí eu fiquei pensando sobre isso, porque de fato ela acaba se apaixonando por ele todos os dias, e ele encara com dedicação total a tarefa de conquistá-la todos os dias. O filme já virou um clichê das reflexões. Mas eu sempre me pego pensando no final dele. E hoje minha viagem foi sobre os detalhes das histórias de amor. “Ela sorri e aperta os olhos, é lindo”, “ele fala de um jeito doce que me encanta”, “ele finge que vive num programa de TV e fala coisas sobre mim com uma câmera invisível”, “ela sempre reclama quando chego em casa e não dou um beijo, e aí eu dou”. Sabe esses pequenos detalhes? Coisas de todo casal, que fazem aquela relação diferente das outras, única? Quantos pequenos detalhes desses fazem uma história? Um relação de um dia? De anos? Será que a gente percebe? Ou será que as distrações do dia a dia nos fazem perder o melhor? E aí percebi que os dois assuntos que decidi colocar no blog hoje se ligam exatamente aí. São tantos apelos por minuto, no Facebook, na televisão, na propaganda, no compre isso e aquilo, que as pessoas deixam o essencial passar em branco. Que grande bobagem. Perdem de viver o melhor. De se dedicar ao que preenche a alma. Não ao que satisfaz momentaneamente, mas ao que constrói alguma coisa dentro de si. O que te preenche? Meditar? Entrar em contato com a natureza? Ler? Conversar com pessoas importantes pra você? Olhar nos olhos do seu amor e ficar em silêncio, fazendo carinho? Ouvir música? Estar presente na vida da sua família, que você negligencia todo dia, porque está ocupado demais com o que te adormece?

Acordemos. A grande realidade, a única imutável, é que o tempo passa mais rápido do que a gente pensa, e é justamente essa realidade que a gente insiste em ignorar. Tudo muda, as relações mudam, as pessoas seguem a vida, as histórias se sobrepõem, o tempo não nos espera. A gente costuma pensar que um dia da semana tem que funcionar no automático: acorda, segue sua rotina de todo dia, dorme. Quando certamente há espaço nesse intervalo pra fazer algo que te faça sentir vivo, e não um robô. Qualquer coisa. Se não der pra dar uma caminhada ouvindo uma música que te agrade, dance, se não der, cante na hora do banho, se não der, faça uma comida diferente, experiente algo que nunca fez, se não der, escreva uma música, se não der, tire três minutos à noite pra ouvir uma música, e relaxar seu corpo e sua cabeça, e se der, privilegiado, vá à praia! Mas tente sair dessa prisão do sono eterno que te emburrece, diminui, anestesia, e te rouba todos os dias. E passe a prestar mais atenção ao seu lado. Quem vive com você, nem que seja só você mesmo. Planeje algo grande, ou pequeno, mas faça. Acorde, e bom dia.

(Caso você queira a tradução da música, clique aqui.)

Tim Tim – Um brinde ao tempo

Um brinde ao relógio, que não pára. Às oportunidades que temos a sabedoria de enxergar, e às que perdemos. Às lições que elas nos ensinam. Ao relógio, que ele nos dê tempo de perceber que o tempo passa. Às novas possibilidades que se apresentam, aos ciclos, que se renovam.

Hoje eu quero brindar ao relógio, que trabalha pra fazer brotar a felicidade, abrir o sol, despertar paixões, clarear a mente, curar dores, trazer experiências, transformar sentimentos. Brindo à habilidade do relógio de quase parar o tempo. Pra que a gente possa viver eternamente um breve instante perfeito. E à habilidade de mudar tudo quando a gente “menos espera”.

Por fim, brindo pra que ele ensine algo. Ele sempre tem algo a ensinar. Às vezes pra aprender é preciso calma e tempo, mas com cuidado – ou brindaremos às oportunidades perdidas para sempre.

Proponho um brinde à passagem do tempo! Topa?

Delita e Capitulina

“Ela morreu”.

Acordei no meio da noite com um homem dizendo isso em voz alta em meu quarto. O susto foi grande. Não havia ninguém em casa além de mim e dos meus pais, que dormiam tranquilamente no quarto deles. Mas alguém havia dito essas duas palavras ali, entre aquelas quatro paredes, no meio da madrugada. “Ela morreu”. Vejam, não estou me referindo a espíritos, não é isso, embora não possa descartar a possibilidade, porque não creio em bruxas, mas que elas existem, existem. Só que não havia mais ninguém ali.

O fato é que as palavras “ela morreu” me levaram de volta a uma noite quatro anos antes, quando, já por volta das 11 horas, o telefone tocou em casa. Era uma tia, dizendo que minha avó, que viera do interior para se tratar de um problema de saúde, não passava bem. Meu pai atendeu, e pelo tom de sua voz senti que o problema era grave. Minha avó gemia de dor, e minha tia estava nervosa. Meu pai receitou um remédio, não é médico, mas trabalhou toda a vida com farmácia, e conhece substâncias como um médico. Desligou o telefone. Passou um tempo, a situação acalmou-se. Todos dormimos. No meio da madrugada toca o telefone. Meu pai vai atender, tenso e angustiado. A conversa não demora. “Alguém está indo levá-la ao hospital?” Sim, havia um sobrinho que morava mais perto e que estava a caminho. Meu pai já não dormiu. E eu, a cada toque de telefone, me afundava mais na cama. Eu não queria ouvir, eu não queria saber. Eu fingia estar dormindo, porque se eu não participasse daquilo, era como se não estivesse acontecendo. Talvez de alguma maneira eu sentisse a gravidade da situação, e não queria de jeito nenhum enfrentar. Até que mais uma vez o telefone tocou. Eu não ouvi quase nada. Segundos depois veio o ruído do telefone encaixando-se no gancho. Passos no corredor. Meu pai passa na porta do meu quarto, segue em direção ao dele e fala à minha mãe, quase num sussurro engasgado, sem crer, mas o mais firme que ele pôde: “Ela morreu”.

Eu, num gesto egoísta, infantil e covarde, apertei o travesseiro na cabeça e ouvidos, cerrei os olhos, me contraí inteira. Não quero. Não quero. Não era verdade. Não podia ser. Mas era. Eu enfrentava a morte da minha avozinha Capitulina, que me chamava de Delita e que conversava com os cágados do quintal, e enfrentava a dor do meu pai, um menino, agora órfão de mãe, a mulher forte e guerreira que ele tão bem descreve em suas histórias. Ela morreu. Depois de entrar numa bolha particular, como que pra fingir que nada daquilo estava acontecendo, saí, me levantei e encarei meu pai, olhos cheios de lágrimas, desnorteado pra lá e pra cá da casa, tentando organizar um copo que estava fora do lugar, um pano que tinha caído no chão, como que pra ocupar sua mente para que ela não entrasse em colapso. Minha mãe, tentando apoiar o marido, e a filha que tinha acabado de perder a avó, era a imagem de uma mulher que gostaria de guardar a família debaixo da asa. Minha irmã já morava fora.

Meu pai sentou, chorou um pouco, mas sempre de maneira contida. Chorei com ele em silêncio. Fomos deitar. Eram 3 da madrugada e àquela hora não havia mais o que fazer. Deitar, mas não dormir. Cedo fomos até lá e as providências foram sendo tomadas.

Aquelas palavras, “Ela morreu”, me assombram ainda hoje. Elas me apunhalaram de maneira tão aguda, que não posso pronunciá-las juntas sem sentir, ao menos um pouco, a sensação de negação que tive aquela noite. E quando acordei ouvindo “ela morreu” dentro do meu quarto, me assustei. Eu não sei quem disse. Mas era uma voz clara, masculina, quase me alertando, quase me chacoalhando. “Acorde, porque ela morreu”. Se isso foi um recado, não sei se entendi direto. Acordei angustiada e triste. Não exatamente com medo. Talvez seja meu subconsciente me avisando que diante de momentos em que a vontade é de negar fatos trágicos, essa é justamente a hora em que é preciso acordar. Talvez seja a força desse registro em minha cabeça, reverberando tanto tempo depois. Talvez seja minha mente tentando me fazer finalmente acreditar na perda da minha avó. Sim, ela morreu.

Há dois dias sonhei com ela. Era dia de finados e seu aniversário. Talvez tenha sido uma visita, mas não era aquele sonho clássico, de filme, “estou bem, cuide de fulano de tal”. Não, era uma conversa trivial, nem lembro sobre o quê. Mas de fato ela estava mais jovem.

“Ninguém deu comida pra gente hoje, dona Capitulina!”, dizia ela no quintal quando eu era criança, fazia voz de menino, como se fossem os cágados que moravam no fundo da casa falando com ela. A gente olhava, eu e minha irmã, sorriso congelado no rosto, e depois gargalhadas finas. Diversão pura e simples. “Olha aquela fulô ali, Rai”, “não é fulo, vó, é flor!”, “Ah é, verdade”. “Deus lhe abençoe, Rai!”, “não vó, é Delita no telefone”, “Oh, é mesmo”. “Corta uma fatilha desse bolo aí pra mim, Delita”. “Não é fatilha vó, é fatia!”. E nos desmanchávamos em risos.

Não precisa me lembrar. Não esqueço que ela morreu. Mas o mais importante de toda essa história é que ela viveu.

Fuxico de vovó.

Fulô na frente de casa.

Já Morro de Saudade

A vida é agora. Pensando nisso, decidi no final da tarde de sexta-feira ir para Morro de São Paulo com três amigas na madrugada seguinte. Tive duas horas para organizar tudo e estar a postos. Pra quem não sabe, ir para Morro de São Paulo compreende pegar um ferry-boat (e a fila que o espera), pegar estrada (quase duas horas) e depois uma balsa. No meu caso duas balsas, porque primeiro parei na Gamboa do Morro.

E foi a melhor coisa que me aconteceu nos últimos tempos. Com três pessoas amigas, leves, engraçadas, dispostas a viver momentos felizes e inusitados, e a enfrentar o cansaço das viagens com total bom humor. Dancei, ri, bebi, comi, mergulhei, tomei banho de uma lama que faz bem pra pele, e tudo mais. Aliás, a tal lama foi um capítulo a parte, primeiro você anda um pouco na praia até chegar ao lugar. Lá tem uma rocha gigantesca que se desprende aos pouquinhos e se junta com o mar, sei lá como é que é direito. O fato é que o resultado dessa mistura fica com uma consistência de chantilly, você entra e afunda meia perna, e todo mundo parecia estar num verdadeiro parque de diversões. Como Morro recebe muitos turistas, havia um grupo de espanhóis que entrava de cara na lama. Um grupo de sulistas e cearenses que escorregava na lama. E eu, Maslowa, Adriana e Bárbara também parecíamos crianças tendo crises de riso e jogando lama umas nas outras. Foi uma experiência e tanto. A lama é de uma cor tipo um rosa claro alaranjado, e estar dentro dela é uma sensação única. Depois banho de mar – que está logo à frente – pra tirar a lama do corpo e a pele fica deliciosa, hidratada, não sei explicar, nem se há qualquer base científica pra isso, mas talvez a gente fique tão feliz e leve ao sair de lá que tudo fique mais bonito no mundo, até a pele.

Conheci pessoas de outras partes do mundo, vi as deslumbrantes paisagens do Morro e de Gamboa, estive juntos de amigas queridas e admiráveis. Que bom que decidi ir. Baterias recarregadas!

Adri, Lowa, eu e Binha

Nem o capeta se rendeu ao paraíso!

Só queria chegar, ir embora nunca.

Dolce far niente.

Sobre admiração, anseios e morte lenta

Outro dia conheci, através do twitter, um poema chamado “Morre Lentamente”. Ele foi retuitado por uma amiga (Adri), e achei interessante. Era atribuído a Pablo Neruda, e antes de retuitar fui apurar se era mesmo dele (vício jornalístico). Acabei encontrando uma grande controvérsia. Uns dizem ser dele, outros atribuem a Martha Medeiros, escritora gaúcha maravilhosa (cujo blog está linkado na seção “Para Ler” aí do lado). Acabei achando uma nota da Fundação Neruda desfazendo o equívoco, e afirmando que o texto não é dele, e sim de Martha Medeiros.

Aí a confusão piora! Porque encontrei dois textos diferentes. Mas como eu não sou dada a estes problemas menores (me perdoem os preciosistas, mas o poema é melhor que a questão do “DNA” do próprio), resolvi postar aqui o que mais me agradou, até porque as diferenças são mínimas.

Morre Lentamente

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos. Quem não muda de marca,
não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru. Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os “is” em detrimento de um redemoinho de emoções, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar. Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.

Morre lentamente quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples fato de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade.”

Ah, como eu admiro verdadeiramente quem escreveu isso e quem se recusa a morrer lentamente assim.

*Atualização: O poema não é poema, é uma crônica de Martha Medeiros, e na verdade se chama “A Morte Devagar”, confirmei no próprio blog dela, aqui.

You’ll just do it all again

On the Radio
Regina Spektor
* Pra quem precisar, tem tradução no Google! 🙂 *

“This is how it works
It feels a little worse
Than when we drove our hearse
Right through that screaming crowd

While laughing up a storm
Until we were just bone
Until it got so warm
That none of us could sleep

And all the styrofoam
Began to melt away
We tried to find some words
To aid in the decay

But none of them were home
Inside their catacomb
A million ancient bees
Began to sting our knees

While we were on our knees
Praying that disease
Would leave the ones we love
And never come again

On the radio
We heard November Rain
That solo’s really long
But it’s a pretty song
We listened to it twice
‘Cause the DJ was asleep

This is how it works
You’re young until you’re not
You love until you don’t
You try until you can’t

You laugh until you cry
You cry until you laugh
And everyone must breathe
Until their dying breath

No, this is how it works
You peer inside yourself
You take the things you like
And try to love the things you took

And then you take that love you made
And stick it into some
Someone else’s heart
Pumping someone else’s blood

And walking arm in arm
You hope it don’t get harmed
But even if it does
You’ll just do it all again

And on the radio
You hear November Rain
That solo’s awful long
But it’s a good refrain
You listen to it twice
‘Cause the DJ is asleep
On the radio”

And so it goes…

Uma casa portuguesa, com certeza!

Eu faço um quadro na Rádio Metrópole que se chama “Dia na História“. Nele eu conto diariamente fatos que de alguma maneira marcaram a humanidade (que pretensão!). Acontecimentos históricos, nascimentos e mortes de pessoas que foram importantes (claro que esse “importantes” é no sentido do coletivo). Todos os dias quando vou pesquisar esses acontecimentos para fazer o quadro me deparo com uma fonte infinita de histórias de guerras, casamentos reais, papas, concertos inesquecíveis, fatos políticos, músicas. Todo dia tem novidade, é ótimo.

No “Dia na História” de amanhã, eu registro a morte de Amália Rodrigues, uma maravilhosa cantora portuguesa, a quem ouço desde pequena porque meu pai de vez em quando escutava (e escuta ainda). E vou colocar lá um trechinho de “Casa Portuguesa”, um fado radiante.

E que coisa mais linda! A música tem um ritmo alegre, a letra dá um aconchego, uma sensação boa! E aí…

Ai, aí eu fiquei balançaaaada de vontade de conhecer Portugal! A cara de um lugar meio baiano, meio europeu, alegre, com personalidade, colorido, forte e ao mesmo tempo singelo. Será que é isso mesmo?

“Numa casa portuguesa fica bem
pão e vinho sobre a mesa.
e se à porta humildemente bate alguém
senta-se à mesa com a gente.

Fica bem esta franqueza, fica bem,
que o povo nunca desmente.
A alegria da pobreza
está nesta grande riqueza
de dar, e ficar contente.

No conforto pobrezinho do meu lar
há fartura de carinho.
e a cortina da janela é o luar,
mais o sol que bate nela…

Basta pouco, poucochinho pra alegrar
uma existência singela…
É só amor, pão e vinho
e um caldo verde, verdinho
a fumegar na tigela.

Quatro paredes caiadas,
um cheirinho à alecrim,
um cacho de uvas doiradas,
duas rosas num jardim

um São José de azulejo,
mais o sol da primavera.
uma promessa de beijos…
dois braços à minha espera.
É uma casa portuguesa, com certeza!
É, com certeza, uma casa portuguesa!”

Ora, pois!

Qual é a minha palavra?

Finalmente Comer, Rezar, Amar entrou em cartaz. Assisti, claro, logo no primeiro dia. Adorei, e na verdade não tenho vontade de fazer nenhuma crítica, embora haja coisas a pontuar, simplesmente porque eu sou apegada a essa história e sou parcial em relação a ela. Gosto. Ponto.

Pra quem não leu o livro, ou viu o filme, acho difícil não conhecer nada da história, tamanha a exposição que o assunto tem tido. Mas em linhas muito gerais é o relato de Liz, que logo depois de sofrer um divórcio muito traumático, engata um relacionamento complicadíssimo com um jovem ator. Cansada de sofrer e ao mesmo tempo de perder gradativamente a paixão pela vida e por ela mesma, resolve passar um ano viajando sozinha pela Itália (onde se entrega ao prazer de comer e viver), pela Índia (numa espécie de “mosteiro” hindu para rezar e encontrar Deus) e em Bali (onde a idéia era fechar o ano se maravilhando com o lugar, mas acaba conhecendo aquele que desperta novamente o amor em seu coração).

A questão é que desde então uma pergunta me assalta todos os dias: qual é a minha palavra?

Eu já falei sobre o livro aqui, e sobre como me encantei com essa história. Até por ter me identificado com o relato de Liz, e com esse anseio de viajar e me encantar pelo mundo (sobre o qual já falei aqui). Em determinado momento (no filme, porque no livro é um pouquinho diferente), em Roma, Liz e alguns amigos discutem sobre que palavra definiria, por exemplo, Londres. ARROGANTE, foi a resposta. E qual seria a palavra para Nova York? AMBIÇÃO, ou FULIGEM (no livro é o verbo CONQUISTAR). A palavra de Roma seria SEXO e a de Estocolmo CONFORMAR. Daí os personagens começam a questionar qual seria a palavra para cada um deles. E eu comecei a pensar em qual seria a minha palavra. Que palavra me definiria.

E que exercício difícil! Achar uma palavra, umazinha só, que defina você em todos os momentos. É claro que Londres não é sempre Arrogante, mas concordei com a palavra (levianamente, porque ainda não conheço a cidade) simplesmente porque tenho essa sensação sobre a capital inglesa. Acho que a palavra de NY é perfeita, Ambição, Conquistar. Encaixa nela sem fazer barulho. E que palavra se encaixa em mim sem ruído, sem atrito, sem objeção? ENTREGA? Diz muito sobre mim, mas não reflete meu lado que adora postergar medidas e providências. SONHAR? Parece quase perfeito, mas ainda não é isso. CINEMA, é uma palavra maravilhosa, sempre achei que a vida cotidiana parece roteiro de filme bom, e na minha não falta trilha sonora, mas não sei, tem algo na palavra que me faz crer que ela não me define, não é muito real. Talvez seja uma palavra que eu goste muito, talvez alguma coisa que eu ainda nem imagine. Enfim, não sei.

As amigas que foram ver o filme comigo também estão se perguntando isso. Até agora ninguém descobriu a palavra certa. Uma delas até pontuou que não quer a palavra dela ainda, porque ela acredita que nesse momento a palavra não seja boa, que talvez seja melhor que ela seja definida em outra situação. Cada um com suas elocubrações.

Eu queria minha palavra. Mas como aconteceu no filme com Liz, que a palavra chegou na hora exata, de maneira leve, e que sem o menor sacrifício percebe-se que é a palavra perfeita, espero que seja comigo. Acho que minha palavra ainda está sendo escrita.

Liz Gilbert

Para Lennon e McCartney

Podem chamar de doida. No final das contas, de perto ninguém é normal mesmo. Eu e os Beatles estamos todos aqui em casa, comemorando uma coisa maravilhosa. Finalmente conseguimos conversar hoje. Ouvi Hey Jude a vida inteira. A vida inteira. Mas eu não precisava dela. E agora, que incrível. É justamente dela que eu precisava. E a vida é tão louca (e a cada dia mais louca) que me bati com Hey Jude essa semana. Assim, por acaso. Mais uma vez a gente não conversou. E hoje, quando eu sentia uma angústia, um peso, uma coisa que eu não podia carregar sozinha, me bati de novo, absolutamente por acaso, com Hey Jude. E sim. Nós conversamos. Quer dizer, eu ouvi bem mais do que falei. E incrivelmente eles conversaram comigo. Me aconselharam, me apoiaram, e falaram tudo isso exatamente pra mim. Hoje, tanto tempo depois da gente se conhecer. E a partir de agora Hey Jude é muito mais que uma música linda. Porque hoje, dia 30 de setembro de 2010, Paul e Lennon conversaram só comigo. Cantaram só pra mim. Me deram a mão e me disseram que eu vou conseguir “make it better”. Não, Paul, não vou decepcionar você. E não, eu não sabia. Achava que tinha que esperar for someone to perform with. Mas sim, it’s just me, e eu vou fazer. Mas não sozinha! Obrigada!

Cadê o SAC??

Se eu acreditasse mesmo em psicografia, ia querer que Saramago continuasse mandando umas coisas de lá pra cá. Mas eu nunca vi um escritor realmente bom e reconhecido mandar nada na “mão e contra-mão”, só uns espíritos com nomes que terminam em “us”, Lucius, Antonius, Leôncius, que ninguém nunca viu. Então deixa tudo do jeito que está, que ainda tem um monte de livros dele pra ler. Escritos em vida. Nessa vida.

Ontem fiz aniversário de novo. Eu acho o máximo fazer aniversário, só não concordo que a gente tenha que envelhecer concomitantemente. Eu, por exemplo, não vi esse tempo todo passar. 31 anos? Aonde (baianidade total)! Não passou isso tudo mesmo! Deve haver um SAC das idades registradas a mais por engano. Vou procurar no Google.

Por falar em Google, ontem alguma “mina” ou algum “mano” chegou ao meu blog digitando o seguinte no Google: “Como uma mina quer ser catada na adolescência”. Catada?? No meu tempo (ih, acho que 31 anos realmente passaram) na pior das hipóteses o povo “pegava” alguém. Hoje o povo “cata”. Mas esse negócio de catar é oficial? É aceito? Tipo “tô interessada nele, será que ele vai me catar?”, ou “e aí, tô querendo te catar hoje”? Acabo de descobrir que tenho um problema, “vai te catar” é uma das minhas frases prediletas. Será que agora perdeu o sentido? Em caso positivo, peço às pessoas que acham que “catar” tem algum fundo romântico que me ensinem como é que eu mando alguém “se catar” agora, ok? Preciso me atualizar.

E esqueçam o SAC, começo a aceitar a realidade.

Advogada do diabo

Vocês também travam discussões aguerridas internamente? Ai, isso acontece tanto comigo… Eu carrego várias pessoas dentro de mim. E elas são daquele tipo “você disse que o céu é azul? Eu não gosto quando você tem esse ar de superioridade. Só pra contrariar, vou pontuar que o céu é rosa”.

– Como assim, o céu é rosa? Isso é ridículo. É consenso universal que o céu é azul.
– O céu é preto.
– É patético ver alguém que não tem argumentos e que se perde defendendo pontos de vista sem nenhuma base só porque perderam uma discussão. Há pouco o céu era rosa… Tsc.
– De que cor é o céu às 10 da noite? E de que cor é o céu na alvorada? Eu te ajudo. Preto e rosa, respectivamente. Portanto eu sempre estive certa.
– Na maior parte do tempo é azul, então o azul prevalece.
– Sim, mas ainda assim você não estava 100% certa. Só é azul na maior parte do tempo… mas pode ser rosa na menor parte do tempo. Se você omite esse detalhe eu também posso omitir. O céu é rosa.

Viu que eu disse?

É por aí. Assim eu passo o dia discutindo comigo. Outro dia eu estava no trabalho, 110% dedicada a um trabalho que exigia atenção total. Então o telefone da minha mesa tocou. Era o porteiro avisando que duas pessoas estavam querendo me ver na portaria. Ai, que saco, eu não tô no sofá esperando pra receber visitas, eu estou trabalhando, pensei, enquanto me levantava a muitíssimo custo. Ao chegar lá descobri que se tratavam de duas senhoras com uma caixa embrulhada pra presente. Eram chocolates importados, em agradecimento a todo o meu esforço em divulgar o nome da cadelinha de uma delas, que tinha sido levada por um estranho. Mel, a yorkshire, tinha sido devolvida por um ouvinte anônimo e entregue às duas ali na minha frente, que traziam o mais gentil e grato dos sorrisos. Não soube o que dizer, tinha apenas feito o meu trabalho (embora essas questões me toquem verdadeiramente, e talvez eu tenha mesmo dado atenção especial a Mel). Elas agradeceram algumas vezes e se foram, dizendo que não queriam atrapalhar, já que sabiam que eu estava trabalhando.

Imaginem em que estado voltei à minha mesa. Queria deixar de existir. Queria largar tudo ali e correr pra um retiro espiritual, onde deixaria de ser tão estúpida, egoísta e mesquinha. Onde aprenderia a dar valor ao desconhecido, mesmo que ele atrapalhasse meu trabalho no meio da manhã. Queria mais que isso, queria voltar no tempo, e simplesmente reagir de outra maneira ao toque do telefone. Mas… aí vem a outra eu que me diz:

– Calma aí, você é só um ser humano. Como ia adivinhar que era algo assim? Podia ser um chato trazendo um calhamaço de papel de um processo na Justiça que dura 30 anos e que ele quer que você resolva. Isso já aconteceu.
– Sim, poderia, e neste caso se trataria de uma pessoa que estaria precisando de minha ajuda, já que não tinha ninguém mais a recorrer… foi assim da outra vez.
– Podia ser um bêbado que ouviu sua voz na rádio e que queria saber como é sua cara.
– Bobagem. O porteiro não ia me chamar.
– Ele disfarçava bem… Ou podia ser engano, a pessoa queria falar com alguém de outro ramal, e o porteiro foi desleixado em passar pra você. Enfim, você estava se dedicando ao seu trabalho, e tem todo direito de não querer ser interrompida.
– Tem razão, sou só um ser humano, sou ridícula, egoísta, ponto.
– E não vai evoluir nunca não? Passou da hora…

E aí a discussão volta sempre pro início, vira um ciclo e eu nunca me resolvo. E eu vivo assim, no meio de brigas internas que nunca chegam a conclusões satisfatórias. Mas eu tenho algo a confessar. Curiosamente eu gosto disso. Eu fico sempre conversando comigo. O lado ruim desse meu jeito é que eu dificilmente tenho posições firmes sobre as coisas. Porque sempre, tudo na vida tem mais de um lado. Olhando de pontos de vista diferentes, as coisas ficam realmente diferentes. E eu posso ficar sempre mudando de opinião (nem é tão ruim assim, né). O lado bom é que eu quase nunca olho as coisas e as situações de um único ponto de vista. Prefiro observar de mais de ângulo, mesmo que isso me custe horas de debates internos acalorados. Não tô dizendo que isso é bom ou ruim absolutamente. É que pra mim só funciona desse jeito, acabei me adaptando. Sou minha própria “advogada do diabo”.

A velhice e a mocidade

Tem uma brincadeira que eu faço de vez em quando comigo. Pego minha pasta de músicas no computador, fecho os olhos (é, eu sei, tem o modo randômico, mas eu sou meio old-fashion), clico em qualquer uma e ouço. Hoje saiu uma que eu adoro, e é exatamente o que eu estava precisando ouvir. Não só pela mensagem, mas porque eu adoro a sonoridade, é introspectiva, é intensa, reflexiva, linda, acima de tudo linda. Los Hermanos, O Velho e o Moço.

(O Velho)

Deixo tudo assim – Não me importo em ver a idade em mim.
Ouço o que convém, eu gosto é do gasto.
Sei do incômodo, e ela tem razão quando vem dizer que eu preciso, sim, de todo o cuidado.
E se eu fosse o primeiro a voltar pra mudar o que eu fiz, quem então agora eu seria?
Ahh, tanto faz, que o que não foi não é, e eu sei que ainda vou voltar…
Mas eu – quem será?

(O Moço)

Deixo tudo assim, não me acanho em ver vaidade em mim.
Eu digo o que condiz, eu gosto é do estrago.
Sei do escândalo, e eles têm razão quando vêm dizer que eu não sei medir nem tempo e nem medo…
E se eu for o primeiro a prever e poder desistir do que for dar errado?
Ahhh…
Ora, se não sou eu, quem mais vai decidir o que é bom pra mim?
Dispenso a previsão!

Ahhh, se o que eu sou é também o que eu escolhi ser… aceito a condição.

Vou levando assim. Que o acaso é amigo do meu coração.
Quando fala comigo, quando eu sei ouvir…

Me and Mike

Mike

Hoje no carro eu resolvi ouvir rádio, e me deparei com ele, que eu amo e nem lembrava (a gente esquece quem ama?): Michael Bublé. Tem até uma música nova que eu também ando gostando, “I just haven’t met you yet”. Well…

Bom, o fato é que cantei feito uma louca ‘Me and Mrs Jones’ (em inglês, of course).

Eu a sra. Jones
Há algo entre nós
Nós sabemos que está errado
Mas é muito forte para deixar passar

Nós nos encontramos todos os dias
No mesmo café
Às 6:30, eu sei – eu sei que ela estará lá
De mãos dadas fazemos planos
Enquanto a vitrola toca nossa canção favorita.

Precisamos ter muito cuidado
Para não elevamos nossas expectativas
Porque ela tem suas próprias obrigações
E eu também, eu também

Bem, esta é a hora de partirmos
Doí demais, doí demais no coração
Agora ela seguirá seu caminho
E eu seguirei o meu
Amanhã nos encontraremos no mesmo lugar – à mesma hora.
No mesmo café
Estaremos de mãos dadas, como temos feito
E vamos conversar, conversar
Nós sabemos, eles sabem, nós sabemos e eu sei
Que não está certo.
Mas eu sou forte, precisamos ir agora
Sra. Jones…

Coisas

Depois de tanto tempo sem escrever será que eu deveria estar com vergonha? “Um pouquinho” seria de bom tom, né? Mas eu ando tão ocupada, “tão tão”, que postar agora é luxo! Então, dado o fato de que eu não estou com vergonha, vamos em frente sem perder tempo!

Quem acompanha o blog sabe da minha angústia em pensar em coisas legais pra postar e depois, quando estou no computador, esquecer. Mas isso é tão eu, que nem me estresso mais. Aliás, por favor, quem souber algo bom pra memória, please. Me diga. Esse é um dos meus principais problemas! Não vale: ler, comer peixe, colocar coisas fora do lugar pra eu saber que preciso lembrar de algo, porque eu vejo a coisa e me dá uma angústia ainda maior de saber que preciso lembrar, mas esqueci. Receitas novas, por favor.

Eu poderia falar do calor que tá fazendo em Salvador, do filme de Lula, da função Scanner que eu descobri ontem na minha impressora, da caneta-laser que ganhei de presente e fico à noite apontando pro mais longe que eu posso ver da janela (e o laser chega muito longe, é massa), de como está sendo 2010 (estou esgotando todos os assuntos, vou acabar não falando de nada), dos livros que estou lendo (todos estagnados pra dar andamento ao meu projeto misterioso) e poderia falar do projeto misterioso. Mas ainda não, deixa eu ver primeiro como essa coisa se desenrola.

2010 tá muito bom, so far. Tô bem, feliz, trabalhando muito, e mega confiante nas coisas boas que estão acontecendo!

See you!

Seja bem vindo, 2010!

Eu tinha planejado fazer um balanço de 2009, e tentar descobrir o que eu espero para 2010, mas à medida que eu fui pensando em como foi esse ano, a vontade de falar sobre ele foi diminuindo. Basta dizer que estou feliz de 2009 ter acabado. Que venha 2010. Simples assim.

E que traga novos ares!