Archive for Setembro, 2012

Despedidas e reencontros

(Para ler ouvindo Despedida, que tocou na nossa formatura da Alfabetização, quando alguns mudaram de colégio. Vocês vão entender. :])

A melhor coisa que me aconteceu no Facebook nos últimos tempos foi um grupo em que me inseriram um dia desses. Um reencontro dos ex alunos da escola onde estudei durante 12 anos da minha vida escolar, o Salette. Desde que isso aconteceu, este é um dos meus passatempos prediletos. E tenho dado muita risada sozinha. De repente eu sinto que tenho 11 anos de novo, às vezes 8, às vezes 14, às vezes vejo uma professora antiga, às vezes lembro das viagens que fizemos todos juntos.

É claro que o que a gente menos comenta são as aulas. Os assuntos mesmo são os bullyings, os meninos populares, as meninas também, onde estão todos, o que fazem, “você continua com a mesma cara”, ou “não lembro de sua cara de jeito nenhum”, e principalmente “como minha mãe cortava meu cabelo desse jeito”, “eu usava pochete atravessada como bolsa, que bizarro”. Tem sido uma delícia, e o melhor é que todos comentam a mesma coisa desse reencontro ainda virtual (que já tem data marcada pro grande reencontro real), e o quanto lembramos de coisas que nem imaginávamos, com a ajuda uns dos outros. Cenas engraçadas, fotos fofíssimas de infância, casinhos de adolescência, os gaiatos continuam gaiatos, as tímidas deixaram de ser tão tímidas. Mas a maioria de nós estudou no mesmo colégio por muito tempo, então crescemos juntos, e nos conhecemos mais do que pensamos.

A intimidade está intacta entre os mais próximos. Na verdade o contato que tínhamos parece permanecer o mesmo! Até professores fazem parte das conversas, e elogiam nossa turma, como meninos que transformaram o colégio de forma bonita e geral. São tantas lembranças! O senhor que vendia picolé pelo vale ou passe na entrada, a freira que dirigia a escola de forma rígida demais, os pés torcidos nas correrias pelas escadas, nosso crescimento desengonçado. Hoje todos adultos, prontos. E tão queridos, pelo menos no trato com nossas lembranças, todos doces, acho que de tão encantados que estamos de termos todos encontrado um tesouro precioso, a riqueza maior da vida de todo mundo, que é a infância. E uma infância bonita, tranquila, brincada, rida, dançada, estudada, feliz e cheia de amigos, cada um com uma infinidade de particularidades. Ainda há muito pra conversar com esses meninos. E dá licença que já tenho um monte de sinalizações novas no Facebook. Meus colegas querem falar comigo, vou fazer um recreio. E quer saber? Vou até pegar uma merenda.

“Conça, tem sonho?”

Por que amo Liz Gilbert

(Para ler ouvindo Attraversiamo)

Amo Liz Gilbert – Comer, Rezar, Amar – soberanamente pelas páginas 186 e 187 desse livro. Trouxe aqui pra compartilhar com vocês. Entendi que melhorar a minha vida depende de melhorar quem eu sou. E para essa tarefa tão, tão difícil, pedi ajuda a ela, que me deu as páginas 186 e 187 pra pensar bastante a respeito e trabalhar um bocado.

“…Há tanta coisa no meu destino que não posso controlar, mas outras coisas estão, sim, sob a minha jurisdição. Existem determinados bilhetes de loteria que posso comprar, aumentando assim, minhas chances de encontrar satisfação. Posso decidir como gasto meu tempo, com quem interajo, com quem compartilho meu corpo, minha vida, meu dinheiro e minha energia. Posso decidir o que como, o que leio e o que estudo. Posso escolher como vou encarar as circunstâncias desafortunadas da minha vida – se as verei como maldições ou como oprtunidades (e, quando não tiver forças para adotar o ponto de vista mais otimista, porque estou sentindo pena demais de mim mesma, posso decidir continuar tentando mudar minha atitude). Posso escolher minhas palavras e o tom de voz com que falo com os outros. E, acima de tudo, posso escolher meus pensamentos. (…)

À primeira vista, isso parece uma tarefa quase impossível. Controlar seus pensamentos? Em vez de o contrário? Mas imaginem: e se fosse possível? Não se trata de repressão, nem de negação. A repressão e negação inventam jogos complicados para fingir que os pensamentos e sentimentos negativos não estão acontecendo. Mas Richard está falando de reconhecer a existência dos pensamentos negativos, entender de onde vieram e por que apareceram, e então – com grande capacidade de perdoar e com grande coragem – mandá-los embora. (…) Deixá-los ir embora um scrifício, claro. É uma perda de antigos hábitos, de velhas implicâncias reconfortantes e de padrões conhecidos. É claro que tudo isso requer prática e esforço. Não é um ensinamento que você possa escutar uma vez e esperar dominar imediantamente. É uma vigilância constante, e eu quero isso. Preciso disso para ficar forte. Devo farmi le ossa, é o que dizem em italiano. Preciso fazer meus ossos.

Assim, comecei a me forçar a prestar atenção em meus pensamentos o dia inteiro, e a monitorá-los. Repito essa decisão cerca de setecentas vezes por dia: “Não vou mais abrigar pensamentos que não forem saudáveis.” Sempre que um pensamento desprezível surge, repito a decisão. Não vou mais abrigar pensamentos que não forem saudáveis. Na primeira vez em que me ouvi dizer isso, meu ouvido interior se espantou com a palavra abrigar e com seu substantivo correspondente, abrigo. Um abrigo, é claro, é um local de refúgio, um porto seguro. Visualizei o porto seguro da minha mente – um pouco surrado, talvez, um pouco maltratado pelo tempo, mas bem situado e com boa profundidade. O porto seguro da minha mente é uma baía aberta, o único acesso à ilha do meu Eu (uma ilha jovem e vulcânica, sim, mas fértil e promissora). Essa ilha já passou por algumas guerras, é verdade, mas agora está comprometida com a paz, sob a batuta de um novo líder (eu) que instaurou novas políticas para proteger o lugar. E agora – que a boa-nova seja espalhada pelos sete mares – há nos autos leis muito, muito mais rígidas quanto a quem pode adentrar esse porto seguro.

Você não pode mais vir aqui com seus pensamentos duros e abusivos, com seus navios de pensamentos assolados pela peste, com seus navios negreiros de pensamentos, com seus navios de guerra de pensamentos – todos eles serão rechaçados. Da mesma forma, quaisquer pensamentos cheios de exilados zangados ou famintos, de descontentes e panfleteiros, de amotinados e de assassinos violentos, de prostitutas desesperadas, de cafetões e de passageiros clandestinos – vocês também não podem mais vir aqui. Pensamentos canibais, por motivos óbvios, não serão mais recebidos. Até mesmo os missionários serão cuidadosamentes revistados para avaliar sua sinceridade. Este é um porto pacífico, entrada para uma ilha bonita e orgulhosa que está apenas começando a cultivar a tranquilidade. Se vocês respeitarem essas novas leis, meus caros pensamentos, então serão bem-vindos na minha mente – senão, eu os devolverei novamente ao mar de onde vieram.

Essa é a minha missão, e ela nunca vai terminar.”