E então Marcela resolveu que naquela noite queria sair pra dançar. Agitou os amigos, e lá pras tantas entravam na danceteria. Casa cheia, apertado pra andar. A música era legal, ela estava animada, então tudo bem passar um apertozinho. Depois de procurar por uns 20 minutos, o grupo encontra um espaço onde todos podem ficar em pé juntos e até, com sorte, dançar um pouquinho. Não demora muito e vem um carinha na direção de Marcela.
– Cara, você é linda.
Ela dá aquele sorrisinho sem graça e diz “obrigada”… e ele segue:
– Sou de Curitiba, sabe, vim ver o que que a baiana tem.
Pára tudo. Pára, pára, pára. Começou muito mal. Extra mal. Übber mal. Ela começou a se sentir vestida de rendas, anáguas, colares e um torço branco, e por pouco não perguntou se ele queria o acarajé dele com ou sem pimenta. A vontade de Marcela naquela hora era de começar a sambar e cantar “tem torço de seda tem! Tem! Tem brinco de ouro, tem! Tem!” Ainda existe alguém no mundo que usa essa cantada? Se ele soubesse que toda menina baiana tem um jeito que Deus dá recebe essa cantada pelo menos umas mil vezes na vida, mudaria a estratégia.
Nessa hora, 3 reações eram possíveis. Vamos conhecê-las? (bem didática.)
Reação possível nº 1 – Ele é muito gatinho. Vou fingir que achei muito original e dar um sorriso aberto. Vai, vamos fazer esse esforço, pode gerar frutos.
Reação possível nº 2 – Ele não é tão gatinho. Vou fazer uma cara blasé e deixar ele falando aí pra ver se sai algo que preste.
Reação possível nº 3 – Nem se ele fosse o cara mais gato do mundo. Um tipo que chega com uma cantada dessas merece o nada, o desprezo.
Como ela não tinha bebido nada ainda pra largar uma patada, resolveu simplesmente deixar que o rapazinho continuasse.
– E aí eu descobri que a baiana é muito receptiva.
Arrã, senta lá e espera. Opa, peraí. Aí tem vírus. O que ele quer que ela receba? Melhor não perguntar. Ela diz “ah, tá, valeu”, pouquíssimo receptiva. Você pensa que ele desistiu?
– É que você é a baiana mais linda que eu vi desde que cheguei aqui.
Risinho de novo, né? Que é a saída mais rápida. Desde que não seja muito aberto, pra não alimentar o que já está ficando quase insuportável.
Diante da pouca receptividade da baiana, o “curitiba” tira um cartão do bolso, entrega pra ela, e larga:
– Eu só te peço uma coisa. Me adiciona no teu MSN. Sério. Faz isso.
Ah, era só o que faltava! Vamos ter namoro virtual e teclar até a madrugada!! Uau, ela mal podia esperar. “Parei com isso quando fiz 18 anos, queridão”, ela pensou. Da época em que as pessoas ainda diziam “oi, quer tc?” Pior foi ele achar que ela iria mesmo fazer isso. O papo seria uma graça:
Oi, lembra de mim? Você me pediu pra te adicionar!
Foi! – sem a menor idéia de quem era a figura, que tinha um patinho amarelo no lugar da foto.
Então, sou da Bahia! A baiana mais linda que você viu! Lembra? Você disse que tinha achado!
Ah, de vestido vermelho? Claro que lembro, gata!
Não. Tomara-que-caia preto. Imbecil.
E bloquearia o cara.
Marcela achou melhor não, né? Que daquele mato não ia sair coelho. Guardou o cartão, deu um tapinha no ombro da rapaz, fez que ia pegar uma bebida e deixou o cartão no balcão.
O que é que a baiana tem… Ora, vá. No tabuleiro da baiana, nesse dia, o acarajé estava meio azedo mesmo.