Archive for Setembro, 2010

Para Lennon e McCartney

Podem chamar de doida. No final das contas, de perto ninguém é normal mesmo. Eu e os Beatles estamos todos aqui em casa, comemorando uma coisa maravilhosa. Finalmente conseguimos conversar hoje. Ouvi Hey Jude a vida inteira. A vida inteira. Mas eu não precisava dela. E agora, que incrível. É justamente dela que eu precisava. E a vida é tão louca (e a cada dia mais louca) que me bati com Hey Jude essa semana. Assim, por acaso. Mais uma vez a gente não conversou. E hoje, quando eu sentia uma angústia, um peso, uma coisa que eu não podia carregar sozinha, me bati de novo, absolutamente por acaso, com Hey Jude. E sim. Nós conversamos. Quer dizer, eu ouvi bem mais do que falei. E incrivelmente eles conversaram comigo. Me aconselharam, me apoiaram, e falaram tudo isso exatamente pra mim. Hoje, tanto tempo depois da gente se conhecer. E a partir de agora Hey Jude é muito mais que uma música linda. Porque hoje, dia 30 de setembro de 2010, Paul e Lennon conversaram só comigo. Cantaram só pra mim. Me deram a mão e me disseram que eu vou conseguir “make it better”. Não, Paul, não vou decepcionar você. E não, eu não sabia. Achava que tinha que esperar for someone to perform with. Mas sim, it’s just me, e eu vou fazer. Mas não sozinha! Obrigada!

Com ou sem pimenta?

E então Marcela resolveu que naquela noite queria sair pra dançar. Agitou os amigos, e lá pras tantas entravam na danceteria. Casa cheia, apertado pra andar. A música era legal, ela estava animada, então tudo bem passar um apertozinho. Depois de procurar por uns 20 minutos, o grupo encontra um espaço onde todos podem ficar em pé juntos e até, com sorte, dançar um pouquinho. Não demora muito e vem um carinha na direção de Marcela.

– Cara, você é linda.

Ela dá aquele sorrisinho sem graça e diz “obrigada”… e ele segue:

– Sou de Curitiba, sabe, vim ver o que que a baiana tem.

Pára tudo. Pára, pára, pára. Começou muito mal. Extra mal. Übber mal. Ela começou a se sentir vestida de rendas, anáguas, colares e um torço branco, e por pouco não perguntou se ele queria o acarajé dele com ou sem pimenta. A vontade de Marcela naquela hora era de começar a sambar e cantar “tem torço de seda tem! Tem! Tem brinco de ouro, tem! Tem!” Ainda existe alguém no mundo que usa essa cantada? Se ele soubesse que toda menina baiana tem um jeito que Deus dá recebe essa cantada pelo menos umas mil vezes na vida, mudaria a estratégia.

Nessa hora, 3 reações eram possíveis. Vamos conhecê-las? (bem didática.)

Reação possível nº 1 – Ele é muito gatinho. Vou fingir que achei muito original e dar um sorriso aberto. Vai, vamos fazer esse esforço, pode gerar frutos.

Reação possível nº 2 – Ele não é tão gatinho. Vou fazer uma cara blasé e deixar ele falando aí pra ver se sai algo que preste.

Reação possível nº 3 – Nem se ele fosse o cara mais gato do mundo. Um tipo que chega com uma cantada dessas merece o nada, o desprezo.

Como ela não tinha bebido nada ainda pra largar uma patada, resolveu simplesmente deixar que o rapazinho continuasse.

– E aí eu descobri que a baiana é muito receptiva.

Arrã, senta lá e espera. Opa, peraí. Aí tem vírus. O que ele quer que ela receba? Melhor não perguntar. Ela diz “ah, tá, valeu”, pouquíssimo receptiva. Você pensa que ele desistiu?

– É que você é a baiana mais linda que eu vi desde que cheguei aqui.

Risinho de novo, né? Que é a saída mais rápida. Desde que não seja muito aberto, pra não alimentar o que já está ficando quase insuportável.

Diante da pouca receptividade da baiana, o “curitiba” tira um cartão do bolso, entrega pra ela, e larga:

– Eu só te peço uma coisa. Me adiciona no teu MSN. Sério. Faz isso.

Ah, era só o que faltava! Vamos ter namoro virtual e teclar até a madrugada!! Uau, ela mal podia esperar. “Parei com isso quando fiz 18 anos, queridão”, ela pensou. Da época em que as pessoas ainda diziam “oi, quer tc?” Pior foi ele achar que ela iria mesmo fazer isso. O papo seria uma graça:

Oi, lembra de mim? Você me pediu pra te adicionar!

Foi! – sem a menor idéia de quem era a figura, que tinha um patinho amarelo no lugar da foto.

Então, sou da Bahia! A baiana mais linda que você viu! Lembra? Você disse que tinha achado!

Ah, de vestido vermelho? Claro que lembro, gata!

Não. Tomara-que-caia preto. Imbecil.

E bloquearia o cara.

Marcela achou melhor não, né? Que daquele mato não ia sair coelho. Guardou o cartão, deu um tapinha no ombro da rapaz, fez que ia pegar uma bebida e deixou o cartão no balcão.

O que é que a baiana tem… Ora, vá. No tabuleiro da baiana, nesse dia, o acarajé estava meio azedo mesmo.

Agora só em 2014

Pelo tempo que não posto nada, eu deveria caprichar agora que resolvi escrever. Mas na verdade o post é “rápido e caceteiro”, como se diz aqui na Bahia. Uma amiga me perguntou no twitter: “Cadê o patriotismo da Copa, não vai ver o desfile?” Ah é, hoje é 7 de setembro. Dia da independência. Não vou me dedicar a discutir “independência de quê?”, porque, né, não dá em nada que se aproveite. Mas queria só dizer uma coisinha.

Eu sei que essa amiga não estava me desafiando a explicar “não, eu amo meu país, entenda, é que… bem… na Copa… e hoje é um dia tão importante…”. Não. Ela perguntou e riu. Mas é que tem muita gente que pergunta mesmo, como se dissesse “ah, agora eu quero ver. Te peguei.”.

Minha posição? Tenho o famoso patriotismo de Copa, e não tenho nenhum de 7 de setembro. Pronto, falei. Principalmente em ano de eleições. O futebol brasileiro é vencedor, dá orgulho. Mesmo se perder de vez em quando, que não se vive só e sempre de vitórias. Mas o Desfile não me dá orgulho nenhum. É interessante, as crianças gostam de ir, ver o movimento, eu já desfilei quando pequena um milhão de vezes, e foi importante, ter participado, interagido, tido orgulho, tal. Mas não dá pra alimentar isso a vida toda. É meio como Papai Noel. Depois que a gente cresce deixa de acreditar. Não é que eu não acredite no meu país, e eu acredito, tenho orgulho (na medida do que é possível), só que essas manifestações forçadas, desfile chato, um monte de gente apinhada, não dá pra acreditar que isso seja uma manifestação de orgulho pelo país. E o pior de tudo: políticos querendo votos. Mostrando como são adoráveis e amam seu povo. Ah, tenha paciência. Isso não dá pra mim não. Como eu vou mostrar o orgulho que sinto pelo meu país nessa bagunça? Eles vão e sorriem da hora que chegam até a hora de irem embora. Até quando recebem uma vaia em uníssono, eles fingem que não é com eles. E jogam toneladas de “santinhos” no chão, e fica tudo sujo, e nenhum deles providencia mandar uma equipe pra limpar depois. Pode deixar, eu sinto o orgulho que for em casa mesmo.

E já que estamos falando em políticos, mais uma da série “Observatório Mal Humorado”: eles todos acham que somos idiotas. A campanha de um diz: Eles estão enganando vocês. Nada do que ele diz é verdade. Aí vem o outro e diz: Ele não sabe o que está dizendo. Mente deslavadamente. E quer enganar vocês. Ora, que eles queiram enganar tudo bem, é justo, são políticos, e a maioria é assim e a gente já sabe, mas daí a achar que somos meninos amarelos que não sabem distinguir quem fala a verdade de quem não fala, como se a gente se deixasse enganar a cada nova mentira, feito bobos, é demais. Obrigada candidatos, pela preocupação comigo. Mas não subestimem minha inteligência, s’il vous plâit. Eu já sou bem crescidinha e meu alarme tá ligado na direção de vocês.

Então que ninguém me pergunte cadê meu patriotismo de Copa. Ele volta em 2014.