Em um desses momentos em que a gente se pega pensando coisas aleatórias e aparentemente sem utilidade, eu descobri que estou aliviadíssima porque eu não sou Deus. Explico.
Somos ao todo sete bilhões de pessoas no mundo. Não sei se esses dados são dos organizadores ou da Polícia Militar, mas ainda que haja uma margem de erro, de dois bilhões para mais ou para menos. Alguém sabe o que significa um bilhão? É muito mais do que poderíamos imaginar, então de um bilhão pra cima é tudo basicamente a mesma coisa, muita gente. Então: você que me lê deve ter uma vida bastante complexa. Relações pessoais, profissionais, afetivas, problemas financeiros, anseios, desejos reprimidos, horários a cumprir. Você não é você sozinho. É você e todas as pessoas e coisas que construíram o que você é hoje. Acompanhando até aqui? Agora imagine toda essa complexidade da sua vida, que certamente daria um filme, multiplicada por sete bilhões! É muita coisa pra Deus dar conta.
Eu rezo toda noite. Antes de minha filha nascer eu negligenciava às vezes, mas depois que ela nasceu, bato ponto numa prosa com Deus toda noite, todinha. Eu tenho muitos agradecimentos a fazer, mas também tenho cá minhas demandas. Fico imaginando cada pessoa que vejo na rua. Não são bonecos, figurantes sem alma que estão lá pra compor o cenário. Eles também tem vidas complexas, amigos, questões profissionais, filosóficas, dilemas.
Deus deve receber muitos, muitos pedidos. Mas será que a gente, que ocupa tanto Deus, dá uma ajudinha a Ele? Isso veio no trilho dessa minha reflexão filosófico-religiosa de dia desses. Ele deve precisar de ajuda. Tudo bem que Ele é o Todo Poderoso, uma folha não cai da árvore sem o consentimento Dele, dizem, mas nem Deus pode ser tão autossuficiente que não aceite uma mãozinha. O problema é que, proporcionalmente, poucas pessoas devem fazer isso. “Deus, deixa eu cuidar disso aqui pro Senhor”, e alimentar alguém que não tem o que comer, alfabetizar pessoas que não tem acesso a educação, compartilhar tempo e conhecimento, resolver uma questão burocrática pra uma pessoa idosa, salvar alguém do afogamento, sei lá. Fazer sem compromisso, só pra dar uma desafogada nas tarefas de Deus. E deixaríamos pra Ele apenas as coisas mais difíceis, como consolar quem perdeu alguém que amasse muito, transformar homens desonestos em honestos, amansar o povo do Estado Islâmico, acabar a corrupção, instaurar a paz mundial, essas coisas um pouco mais complicadas.
Mas nem o que a gente poderia fazer, a gente faz. Digo a maioria de nós. Eu não faço. Eu sempre fico pensando que preciso devolver algo ao mundo por merecer tanta coisa boa em minha vida, como minha filha, mas acabo me limitando a fazer muito pouco. “Vou fazer, vou fazer”.
É duro ser tão abnegado como Ele. Atender nossas demandas inquietas e entender que não vamos retribuir porque somos assim mesmo, individuais e individualistas.
Deus que me livre de ser Deus.