(Para ler ouvindo Fake Plastic Trees, Radiohead)
Angústia. Sinto vontade de dizer tantas coisas e não sei por onde começar. O dia foi tomado logo de manhã pela tragédia no Rio de Janeiro. Um louco escreve uma carta insana falando em Deus, depois entra armado numa escola, atira a esmo contra crianças, mata dez meninas e dois meninos e depois se mata. O horror daquele momento é claro que a gente não pode imaginar. O que as crianças que sobreviveram estão sentindo agora tampouco. Os pais dos que morreram… inútil tentar. O choque de um país inteiro, esse eu consigo mensurar. Eu mensuro por mim. Hoje foi um dia em que eu procurei um sorriso pra dar ao mundo e não achei.
Hoje meu coração bateu tenso. Algo me anestesiou e eu respirei fundo o dia inteiro. Como se não soubesse o que estava acontecendo. Hoje, no dia do Jornalista, percebi o quanto minha profissão é ingrata. Vi quase toda a timeline no meu twitter se desligar por opção das notícias no Rio. Eu teria feito o mesmo se pudesse. Mas sou eu, e todos os colegas jornalistas, que temos que fazer a notícia atravessar a distância entre o fato e as pessoas. E pra ser essa ponte, a gente tem que acompanhar, lidar com as imagens, ouvir e falar no assunto. Na televisão, o que mais me chocou foram as imagens das mães de alunos mortos. Enquanto uma esmurrava um carro da PM, a outra dizia coisas sem sentido, olhos opacos, distantes, como se ela não tivesse qualquer ideia de onde estava, nem porque, e nem porque estava viva. Era ela que deveria ter morrido, não sua filha. Tenho certeza de que ela pensou assim quando conseguiu pensar em algo.
E aí eu entro numa crise que me assusta. E isso aconteceu depois de assistir meus colegas jornalistas, e os fotógrafos, disputando um milímetro de espaço pra fotografar um saco preto. Dentro havia uma criança morta. Os Bombeiros tentavam agilizar o fim do martírio, mas os jornalistas queriam aquela imagem. Nas redações dos jornais, rádios e tvs eu posso apostar o que quiserem que teve quem tratasse os mortos como mera estatística. “Quanto mais, mais choca a sociedade. Quanto mais, mais quente é a notícia”. Não se horrorizem, meus caros. É também assim o jornalismo. Aquele que faz cara feia quando apura notícias policiais e ninguém morreu. Quando checa o trânsito e não houve nenhum acidente. Aquele que cola a máquina fotográfica ao cadáver pra conseguir a foto mais “viva” do morto. Eu não consigo, e nem vou, e nem quero compreender isso.
Tenho certeza que existe uma maneira de tratar a notícia com mais respeito. Deve haver, tem que haver. Crise.
Prefiro ficar com a frase que disse na primeira aula, do primeiro dia de faculdade, quando a professora perguntou a cada um dos alunos “por que você decidiu estudar Jornalismo?” e eu respondi: “porque eu quero mudar o mundo”.